Plutão, como Dionísios

por Hector Othon


Dionísios exige adoração a Ele, à vida, ao corpo, celebração. O texto "Bacantes" de Eurípedes, reescrito por Zé Celso é uma boa oportunidade de conhecer o Deus Dionísios e sua relação com o processo humano, através de seu relacionamento com Penteu, chefe da cidade Tebas, onde Dionísios chega com seus rituais, ambos netos de Kadmos, o fundador da cidade de Tebas.

Penteu se atreve a mandar prender Dionísios e o encarcerar. Diferente de Jesus frente a Pilatos, Dionísios vira Deus na frente de Penteu, e o conduz as bacanais onde será estraçalhado pelas Bacantes e sua mãe Agave, que lhe arranca a cabeça, pensando que era um leão.

Quando Dionísios-Plutão não é recebido com adoração, Ele faz que suas bacantes e faunos estraçalhem o corpo (couraças) e arranquem a cabeça (mente) para depois renascer Apolo, o coroado de si.


verdade

Plutão-Dionísios, faz com que a pessoa enfrente suas verdades e desejos mais ardentes. Encarando a verdade na força do Deus, surge a coragem que permite enfrentar o jogo que esconde a vida.

Baco revela a situação, onde se está aprisionado, onde se mente, se está ausente. Quando desconhecemos Baco, entramos em acordos convenientes, oportunistas que aprisionam a outros, que igualmente estão longes de si. Baco mostra as coisas com transparência escandalosa, pura. Não há lugar para o faz de conta, mentiras, máscaras, disfarces. Isto cria condições para perceber as verdades pessoais, os verdadeiros desejos e vontades.

Na presença de Baco, mais que se entregar ao medo e a perturbação de querer aprisionar o Deus, resta adoração ao que a vida traz, a si mesmo e a todos.

Baco como símbolo da Morte, é grande companheiro como bem diz o bruxo Don Juan:
"A morte é nossa eterna companheira. Ela se encontra sempre à nossa esquerda, ao alcance do braço. Ela nos olha sempre até o dia que nos toca. Como é possível alguém se sentir importante, sabendo que a Morte o contempla? O que você deve fazer ao se sentir impaciente com alguma coisa, é voltar-se para sua esquerda e pedir que a sua Morte o aconselhe. Estamos cheios de lixo! E a Morte é a única conselheira que temos. Sempre que você sentir, como acontece sempre, que tudo está indo de mal a pior, e que você se encontra a ponto de ser aniquilado, volte-se para sua Morte e lhe pergunte se isso é verdade. Sua Morte lhe dirá que você está errado, que nada realmente importa, fora do seu toque. Ela lhe dirá "ainda não te toquei". Alguém tem que mudar e depressa. Alguém tem que aprender que a Morte é caçadora e que ela se encontra a nossa esquerda. Alguém tem que pedir o conselho da Morte e abandonar a maldita mesquinharia que pertence aos homens que vivem as suas vidas como se a Morte nunca fosse bater no seu ombro."


amante-amado

Plutão-Baco ensina: se quando se esta desfrutando, curtindo uma pessoa que se  deseja, quer, ama, gosta, faz bem, dá prazer... a pessoa fica viciada, obsessiva,  prende, controla, manipula, pára de reconhecer, respeitar a liberdade do outro, quer só para si, o encanto do relacionamento se rompe e se poderá perder o amado-amante.

O medo de perder ou a perda de discernimento ao querer e exigir mais do que o outro esta afim de dar, são os principais motivos que afastam o amando-amante.

Na medida em que se é despojado, desprendido, agradecido com o que se recebe no relacionamento com o amado-amante, o amor-tesão que une, ganhará esplendor, generosidade.

Se quiser mais do que recebe, terá que fazer por ganhar com sedução, inteligência e arte, nunca impondo, exigindo, pedindo.

Se quando não receber, xingar, maldizer, condenar, castigar receberá menos, e se insistir perderá tudo.
A única maneira de ser agraciado com o amado-amante é adoração, primeiro a si mesmo, depois ao outro.

Se o amante amado tiver que ir, que vá. Plutão ensina: só queira quem estiver presente e com adoração, esse é o segredo do gozo eterno, e a delicia de poder ter sempre ao alcance da mão, o amante-amado


despojamento

O segredo é curtir o que se tem por merecimento com despojamento, desfrutar, agradecer e deixar livre, para que aconteça o melhor a todos os envolvidos. Ainda que por um tempo, se perca o amado-amante, se a atitude for de aceitação e agradecimento pelo que se viveu, ele poderá voltar, ao sentir que é livre para optar pelo que quiser.

Se a pessoa prende, segura, a força da vida e do belo vira morte, medo, queda no Umbral.

"Ó bem-aventurado, ó feliz
quem por uma sorte do destino
se inicia nos Mystérios Divinos
a vida vira santa
a alma vira corpo"


estraçalhamento, cortar a cabeça

Dionísio ao igual que Jesus, é filho do Deus com uma mulher, ao igual que Jesus, logo que iniciado e pronto veio pregar na cidade da mãe e foi pego pelo chefe militar da cidade, Penteu. Ao igual que Jesus, foi levado a prisão. Mas a diferença de Jesus, quando Penteu (Pilatos) ia o maltratar, virou Deus.
Dionísio, consegue levar a Penteu para a bacanal, onde é estraçalhado pelas Ménades e suas tias no comando da mãe Agave, que lhe corta a cabeça, pensando que era um leão.

Assim, na presença de Dionísio-Plutão a pessoa é estraçalhada na sua caretice, nas ilusões de seu Ego e poder mundano. A cabeça feita pela membresia da polis e da família tem que ser decapitada, quer dizer, a mentalidade tem que mudar, virar ampla, múltipla, profunda, viva.

No fim do rito das Bacantes, Penteu vira Apolo, no fim da passagem do encontro com Dionísio-Plutão, a pessoa vira verdade divinal, terrenal, infernal: trans-humana.

antropofagia

O eu plutoniano, na energia de Dionísios vira antropófago. Ele come, assimila e devolve tudo o que entrar em contato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário